Ipojuca é um dos mais novos municípios integrantes da Região Metropolitana do Recife. Terra das praias e resorts paradisíacos de Porto de Galinhas, Maracaípe e Serrambi; do monumental canteiro de obras e investimentos que se tornou o complexo Portuário de Suape; e da cidadezinha interiorana esteada no cultivo da cana-de-açúcar.
Quem ouve falar na construção da refinaria Abreu e Lima em Ipojuca, obra orçada em bilhões, pode até imaginá-la como sendo uma cidade desenvolvida, com avenidas, arranha-céus, shopping centers, condomínios de luxo, etc. Contudo, a verdade é que o centro da cidade ipojucana é formado basicamente por uma avenida, cortada por ruas e ruelas aos longos das quais se constroem, quase em sua totalidade, casebres humildes. Avenida esta que fica estreita quando os motoristas das carretas gigantescas de Suape decidem ir ao centro do município e que, inclusive, percorre-se toda extensão a pé, em questão de minutos.
Aqueles que pegam seus carros e dirigem-se a Porto de Galinhas para veranear, acostumam-se a ver surfistas e “gringos” vindos de diversas partes da Europa. Porém, não imaginam que no meio daqueles canaviais pelos quais passa a rodovia PE- 60 existem casebres onde residem trabalhadores rurais. Pessoas humildes, com os rostos queimados pelo sol e marcados pelo sofrimento de uma vida que não lhes possibilitou nem ao menos aprender a escrever o próprio nome. Esta população sazonal mal sabe que a rede hoteleira em que se hospeda está sendo devorada vorazmente por investidores estrangeiros.
Os grandes empresários e executivos “importados” do sul do país, que regem o conglomerado industrial de Suape, certamente não tomarão empréstimos nas diversas financeiras que pululam em meio a um povo sem muita instrução. Gente que não faz idéia dos juros embutidos naquele empréstimo consignado que sugará seu salário pelos próximos 36 meses, que compra uma televisão de 14 polegadas, financiada, por mais de R$ 1.000,00.
A organização metódica dos estabelecimentos industriais de Suape e o luxo dos resorts e condomínios residenciais de Porto contrastam bruscamente com o crescimento desordenado das habitações neste município. Casebres humildes multiplicam-se por todos os lados, de forma caótica e incessante, prenunciando, certamente, o nascimento do que será conhecido como “favela”. Tais habitações pertencem a pessoas humildes, atraídas pelas promessas de empregos alardeadas pelo desenvolvimento ipojucano, sem possuírem qualificação para serem absorvidas pela demanda. Aumento da criminalidade à vista!
Cidadezinha que, não mais que de repente, passou a ter a segunda arrecadação do Estado de Pernambuco e que assiste a todos os seus 10 vereadores serem processados pelo Ministério Público por formação de quadrilha, peculato e crime eleitoral; e a prefeitura adquirir dezenas de veículos de luxo para suas Secretarias, sem possuir um hospital sequer. Município que, de uma hora para a outra, virou centro da cobiça das mais diversas forças políticas estaduais e que possui um cartório eleitoral com apenas quatro funcionários: dois concursados e dois requisitados junto à Prefeitura, que, por sua vez, há anos não realiza um concurso público.
A impressão que dá é a de que a cidade está assustada, tal qual o índio que pela primeira vez ouviu o estrondo de um mosquete português, julgando ser obra do Deus do Trovão. Mal sabiam os silvícolas que aqueles que chegavam de além mar estavam prestes a mudar a sua vida por completo; a subjugá-los, forçando-os a se adaptarem ao seu meio de vida ou simplesmente perecerem, em reverência à lei natural do mais forte.
Sérgio Escorel: graduado em Direito pela UFPE, servidor do TRT 6a Região
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
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